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André Abreu

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Leciona inglês há 10 anos e participa ao vivo do programa de jornalismo da TransAmérica FM de Criciúma todas as quintas pela manhã diretamente de Boston onde reside atualmente.


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Entrevista: Antônio Linus Rech

Escritor brasileiro fala de seu livro e avalia Governo Lula

O escritor e engenheiro Antônio Linus Rech nasceu em Criciúma-SC, cidade que guarda com afeto no coração. De lá partiu para a PUC de Porto Alegre em 1958, de onde saiu engenheiro e pronto para novas aventuras.

Em 1993, sem muitas opções na capital gaúcha, aterrissou em São Paulo, de onde falou sobre seu livro "Enquanto o Futuro Passa" para o correspondente do CanalStates e TransAmérica FM de Criciúma, André Abreu:

André - O seu livro tem um trecho que faz referência ao poderio da Igreja. Você sabia que a Igreja é uma instituição potente nos Estados Unidos, especialmente em Boston, onde a Igreja católica tinha 80% dos imóveis na área central da cidade antes do escândalo de pedofilia?
Linus - Não sabia, mas observo que no Brasil a Igreja veio perdendo espaço. Mesmo assim a Catedral da Sé está praticamente no marco zero do estado, no ponto central da cidade de São Paulo.

André - Você disse que a Igreja não é mais tão poderosa. E a CNBB aí no Brasil?
Linus - Olha, eles já foram mais poderosos do que são hoje, há 20 anos.

André - Você se identifica com Francis, personagem do seu livro?
Linus - Sabe, André, muita gente já me perguntou isso. Você lembra do Hitchcock? Ele sempre aparecia nos filmes dele de uma forma diferente. No livro eu sou uma espécie de Hitchcock. Eu percorri várias cidades do interior como engenheiro, o que é o caso do Francis. Nessas andanças eu percebi também a igreja sempre nos centros das cidades.

André - Interessante, Linus. Essa também é uma característica das cidadezinhas da Nova Inglaterra. Pilares, a cidadezinha do livro, é um retrato do Brasil?
Linus - Sim, houve essa pretensão no livro. Os aspectos da imprensa e da política brasileira estão lá.

André - Qual o problema da imprensa brasileira?
Linus - Ela é atrelada ao dinheiro. Atrelada a interesses.

André - E o Lula?
Linus - O Lula também está como a imprensa está. Ele tem uma visão bloqueada da realidade brasileira. Ele está atrelado ao poder. O Lula e a imprensa estão subjugados ao dinheiro.

André - Do exterior a gente olha para o Brasil e fica imaginando se existe alguma outra saída além do aeroporto? Na sua opinião, você tem uma preocupação com o social, qual a solução para o Brasil?
Linus - É verdade. O aeroporto será a única saída se nós não tivermos uma revolução social.

André - Uma revolução com alto preço como foi a Revolução Francesa?
Linus - Não, não algo sangrento. Mas, sim, uma revolução social que seja criada desde cedo nas crianças. Há 20 anos um prefeito de Porto Alegre disse que teria uma cidade arborizada, hoje Porto Alegre é uma cidade arborizada. Precisamos de um projeto de longo prazo, não esses projetos dos governos, que só enxergam a curto prazo.

André - Você enxergou a revolução de 64 de dentro?
Linus - Sim, lá em Porto Alegre, eu estava no exército, e a vi por dentro. Existia um certo clima de insubordinação lá dentro.

André - Você mora em São Paulo desde 1993, mas a relação com Criciúma continua forte?
Linus - Sim, é um laço afetivo com a cidade que eu deixei aos 14 anos. Eu vou lá todos os anos.

André - O escritor brasileiro-canadense Sérgio Kokis, deu uma entrevista à Rádio Canadá Internacional em que criticava o Brasil. O que você achou da entrevista dele?
Linus - Eu achei legal que ele é bem aberto. Mas, parece-me, que ele saiu meio magoado do Brasil, com gosto de azedo na boca. Uma visão de que somos um amontoado de índios e uma elite dominante. Ele não conhece mais o Brasil.

André - Mas o Brasil mudou socialmente?
Linus - Eu até diria que piorou. Nós estamos com um número de pessoas vivendo na miséria muito grande. E uma crise social sem precedentes nos últimos anos.

André - A literatura tem função social?
Linus - Tem sim!!! A proposta de meu livro é justamente essa.

11.10.2005