Opinião

 

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Pesos e medidas

Antonio Zuccolo (*)

Imagine alguém comprando carne num açougue que coloca uma tabela bem visível com preços unitários dos vários cortes, mas pesa o que foi pedido em balanças diferentes, conforme o jeitão do freguês.

Pois no relacionamento comercial dos serviços de água, em um grande número de cidades, é exatamente isso que se faz.

Todos sabem que a ferramenta mais importante para que a população use racionalmente a água é o sistema de hidrometração.

Houve um período em que o hidrômetro tinha até financiamento público. Houve. Mas, diante da falta de recursos as entidades prestadoras dos serviços tem feito trocas com objetivo de atingir especialmente os maiores consumidores, numa postura quase que inteiramente voltada para o faturamento. Somente aquelas com alguma capacidade de investimento é que tem feito programas de troca sistemática de hidrômetros.

Enquanto isso, a função do hidrômetro, de indução ao uso racional da água, tem sido deixada em segundo plano.

Recentemente concluí um estudo envolvendo 14 cidades localizadas em uma região que já pode ser caracterizada como zona de conflito hídrico, onde o mau uso da água por um município leva o outro a uma situação de carência.

Dessas, apenas uma, representando apenas 8% das ligações totais da região, adotava algum programa de troca sistemática de hidrômetros.

Ela está localizada à jusante dos demais.

Mas, quais critérios são adotados para a decisão sobre quais hidrômetros devem ser trocados?

O primeiro, é lógico, é o de trocar todos os que estão parados. Depois, vem o critério da idade, do tempo de instalação. Cinco anos tem sido a idade limite. Neste caso, a margem de acerto, que significa exposição de capital por menos de oito meses, tem sido da ordem de 72%. Outro critério, o do volume que já foi medido, 3 mil m3, por exemplo, também é utilizado com freqüência. Margem de acerto 57%. Tem o radical; trocar todos. Margem: 61%.

A verdade é que, com margens de acerto tão baixas, fica muito difícil atingir uma condição de auto financiamento de um programa.

Afinal, existe alguma forma de melhorar a mira?

Primeiro convém lembrar que: a estatística funciona.

Segundo, sem informações de qualidade: a estatística não funciona.

Foram essas as condições que deram origem ao projeto desenvolvido por um grupo de profissionais, hoje com o nome de Modelo de Análise de Hidrometria, que aprimora o processo decisório de troca de hidrômetros.

Usado pioneiramente em 1996, numa cidade com cerca de 50.000 conexões, resultou numa margem de acerto superior a 96% em um projeto piloto que envolveu 3000 ligações escolhidas aleatoriamente. O apelido profissional do projeto: Justiça Tarifária

Uma coisa é certa. Mesmo que o açougueiro fosse um santo, todo mundo ia querer conferir o peso na outra balança. - 20112003

 

(*) Antonio Carlos Franco Zuccolo é engenheiro, especialista em saneamento e consultor na área de desenvolvimento institucional.

 

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