Opinião

 

  Voltar :: Outras Opiniões :: Primeira Página

Plano 20

Antonio Zuccolo (*)

Muitos casos de sucesso comerciais tiveram origem em propostas simplificadas de preço.

A primeira de que se tem notícia é de uma loja na Inglaterra que colocava na porta um cartaz com os dizeres: “Não pergunte quanto custa. Tudo aqui custa $1”.A mais conhecida atualmente é a das lojas de 1,99. Alguns planos para telefonia celular também fazem algo parecido.

O objetivo é, a partir da simplificação do preço das coisas, poder usar melhor o curto espaço de tempo do relacionamento com as pessoas, para melhor entender as suas necessidades, possibilidades e vontades, e não para ouvir reclamações para as quais não se tem resposta.

Porque então não aplicar essa idéia nos serviços de água em pequenas comunidades, onde o serviço está sendo implantado? E porque não nos bolsões de renda baixa de muitos municípios? E quanto aqueles que, mesmo produzindo mais água do que realmente precisam, tem problemas de regularidade no fornecimento

A solução tradicional para esses casos tem sido forçar o uso racional da água com a instalação de hidrômetros que, em geral provoca fortes reações populares.

Alguém, um dia, disse que não adianta tentar vender literatura para quem só sabe ler. Primeiro deve-se criar o hábito da leitura, com escritos mais simples.

O cidadão, com tantas contas para pagar, não vai gostar nem um pouco que se instale em sua casa um aparelho que mede toda água que passa e depois ter que compreender os dizeres, nem sempre claros, de uma conta que vai ser entregue todos os meses. Vai dizer que o hidrômetro está errado. Que ele está pagando pelo ar. Não vai admitir que tem instalações internas que provocam a perda de água. Vai dizer que a tarifa subiu. Tive notícias de um município do interior de São Paulo, que depois de trocar os hidrômetros em grande parte da cidade, está sendo obrigado pelo Ministério Público, a provar que os todos os hidrômetros velhos estavam registrando consumos menores que o real.

Recentemente pude assessorar um fabricante de válvulas Europeu, que após identificar um bom mercado nos paises mais pobres, queria desenvolver um autentico regulador de vazão.

Primeiro determinamos os hábitos predominantes na utilização da água. Depois, desenvolvemos uma estratégia baseada no princípio de que, para muitos usuários, seria melhor que se instalasse um regulador de vazão, que resultasse um preço fixo mensal para uma quantidade de água que atendesse suas necessidades.

 Hidrômetro mesmo, só depois que os usuários adequassem as instalações internas de suas casas, quando então, o medidor seria instalado e as válvulas teriam que sofrer uma simples regulagem sem necessidade qualquer mudança.

A condição definida para o fabricante é de que a válvula deveria assegurar a chegada nas caixas d’água de vazões em torno de 20 m3/mês, que por sinal, é o consumo predominante na maioria nas cidades alvo. Interessante, mas esse número não me é estranho.

A engenharia se virou como pode e o fabricante conseguiu desenvolver não uma pena d’água comum, mas sim uma válvula que garante, a passagem contínua de um volume regular de água, mesmo com grandes variações de pressão. Problemas de entupimento poderiam ser resolvidos com uma operação simples que não exige o desmonte de conexões.

Agora, especialmente nas comunidades de menor porte e renda, é possível implementar um sistema de cobrança simples, no qual o cidadão sabe o volume que vai receber e quanto vai pagar.

Tão importante quanto medir o volume que entra na casa do cidadão, é assegurar que tudo o que entra seja bem usado.

È o Plano 20.

 

(*) Antonio Carlos Franco Zuccolo é engenheiro, especialista em saneamento e consultor na área de desenvolvimento institucional. :20012004:

 

Topo

 Voltar :: Outras Opiniões :: Primeira Página