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O aparelho que faz plim

Antonio Zuccolo (*)

 

Os filmes ingleses de humor primam por ter umas tiradas ótimas. Quem já viu o Mont Pyton, vai se lembrar daquele episódio do hospital, quando o dono comprou, e instalou com o maior alarde, um aparelho que foi instalado numa sala onde uma jovem mulher estava para dar a luz. A cena terrível e ao mesmo tempo ótima mostra um monte de gente dentro da sala de parto, não dando a mínima para a mulher, ou para o momento sublime vivido por ela, mas inaugurando o uso do aparelho, que num determinado momento emitiu um Plin. Todos aplaudiram e se foram.

No nosso dia a dia, acontece quase a mesma coisa. Toda hora aparece alguém tentando nos convencer das vantagens de algo que é a expressão máxima da alta tecnologia e da modernidade. Normalmente são aparelhos sofisticados que emitem um sinal toda vez acontece alguma coisa para a qual ele foi programado a identificar. O duro mesmo é saber o que fazer depois.

Houve um conceito que foi muito utilizado em governos passados, quando a economia do país era totalmente planificada.As rodovias eram consideradas fator de desenvolvimento e, portanto, bastaria construir uma estrada que o desenvolvimento do eixo por onde ela passava surgisse, o que em muitos casos de fato ocorreu. Foram outros tempos. A escassez de recursos financeiros limita essa postura a alguns poucos casos.

Quando estudei administração, num dos trabalhos realizados para o curso de informática, tivemos que propor um plano de informatização para uma entidade pública. Feito o diagnóstico, a conclusão foi que a última coisa que aquela entidade precisava era de computadores.Antes de tudo ela precisava de um plano diretor de informações, pois num primeiro momento os computadores só iriam atrapalhar.

Nos serviços de saneamento tenho visto acontecer coisas parecidas. Uma nova tecnologia para tratar esgotos, um programa que permite trabalhar com desenhos digitalizados, um aparelho eletrônico que permite a cobrança antecipada dos serviços.

O resultado, quase sempre tem sido o aparecimento de uma nova explicação do porque as coisas não estão dando certo. Tenta-se primeiro adotar a tecnologia, ou uma solução isolada, e depois fazer com que a sua existência redefina o comportamento gerencial.

Nas minhas atividades profissionais, tenho procurado expor que a chave para que se tenha a dimensão correta de algum problema está na separação daquilo que causa um problema, dos seus efeitos.

Assim, por exemplo, quando me dizem que o problema do serviço de água de determinada cidade é a impossibilidade política de reajustar a tarifa o que eu digo é que a prioridade deveria ser a implementação de um programa de uso racional de água.

È preciso um bom plano de gestão para sua implementação, e não existe nenhum Plin que faça isso acontecer.

 

 

(*) Antonio Carlos Franco Zuccolo é engenheiro, especialista em saneamento e consultor na área de desenvolvimento institucional. 19112003.

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